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O efeito Dunning-Kruger no mercado financeiro

Seja humilde e cético, porque nada é tão simples e óbvio como num primeiro momento pode parecer

Por Josué Guedes

25 ago 2022 15h41 - atualizado em 25 ago 2022 03h42

por Monkey Stocks, mestre em anti-análise (@monkeystocks)

Você já ouviu falar do efeito Dunning-Kruger? A primeira vez que ouvi o conceito foi no podcast Boa Noite Internet do Cris Dias.

A história de como o efeito foi identificado é bastante curiosa e engraçada.

Em 19 de abril de 1995, o americano McArthur Wheeler, um sujeito de 1,60m e 120 quilos entrou em dois bancos de Pittsburgh em plena luz do dia. As câmeras de segurança captaram boas imagens de seu rosto – ele não usava máscara – e o mostraram segurando uma arma para o caixa.

A polícia garantiu que a filmagem fosse transmitida no noticiário local das onze horas. Uma dica chegou em poucos minutos e, pouco depois da meia-noite, a polícia estava batendo na porta de Wheeler, porém ele estava incrédulo.

“Mas eu usei o suco.”, disse ele.

Wheeler disse à polícia que passou suco de limão no rosto para torná-lo invisível para as câmeras de segurança. Os detetives pensaram que ele poderia estar delirando, drogado ou talvez possuísse alguma demência. Na verdade, ele estava apenas enganado.

Wheeler sabia que o suco de limão é usado como uma tinta invisível. Logicamente, então, o suco de limão tornaria seu rosto invisível para as câmeras. Ele testou isso antes dos assaltos, colocando suco no rosto e tirando uma selfie com uma câmera Polaroid. Não havia rosto na foto! A polícia nunca descobriu isso. Provavelmente ele era menos competente como fotógrafo do que como ladrão de banco. Resumo, Wheeler foi para a cadeia e entrou como um dos criminosos mais idiotas do mundo.

A história de Wheeler chamou a atenção de David Dunning, professor de psicologia de Cornell e um estudante de pós-graduação, Justin Kruger. Eles embarcaram em uma série de experimentos que acabou por gerar o efeito Dunning-Kruger.

Eles questionaram estudantes de psicologia de graduação sobre gramáticalógica e piadas, depois pediram aos alunos que estimassem suas pontuações e também estimassem o quão bem eles se saíram em relação aos outros.

Os alunos que pontuaram mais baixo tinham noções muito exageradas de quão bem eles se saíram. Dunning esperava isso, mas não a magnitude do efeito. Sua primeira reação aos resultados foi “Uau”. Aqueles que pontuaram perto do fundo estimaram que suas habilidades eram superiores a dois terços dos outros alunos.

Aqueles que pontuaram mais alto tiveram, como era de se esperar, percepções mais precisas de suas habilidades. E o mais impressionante, o grupo que obteve a pontuação mais alta subestimou ligeiramente seu desempenho em relação aos outros.

Buscando uma representação gráfica, o efeito teria o seguinte desenho:

Quando comecei a investir no mercado financeiro, confesso que de certa forma vivi o efeito Dunning-Kruger até entender que as coisas não eram tão simples e óbvias como pareciam.

Alguns pensamentos que eu me lembro ter concluído de forma simples:

“Uma ação que fecha o dia na máxima, sempre abre no outro dia com nova alta.”

“Estou vendo padrões de comportamento que ninguém vê.”

“Vou montar um robô que leia notícias e opere com velocidade”

Se eu montar um robô de stop loss curto e stop gain longo, não tem como perder.”

Veja bem, o mercado bursátil é um mercado com alguns séculos de história.

É bastante arrogância minha, pensar que eu, um publicitário, conseguiria enxergar padrões complexos, que em décadas, nenhum matemático, nenhum engenheiro do ITA, ou nenhum cientista de dados tenha conseguido identificar.

Seja você um iniciante no mercado, ou alguém com mais experiência, tenha sempre dois tipos de pensamento:

Um: Seja sempre humilde, o futuro do mercado é mais incerto do que parece.

Dois: Seja sempre cético, nada é tão óbvio e simples quando parece. A economia é um sistema extremamente complexo, e mais importante do que o fato ou o dado, é o efeito desse fato ou dado do mercado, matematicamente falando, mais importante do que (x) é o f(x).

“Não temos que ser mais inteligentes que os outros, temos que ser mais disciplinados que os outros.”

– Warren Buffet

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Por Josué Guedes

josue.guedes@mmakers.com.br