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O “preço” mais importante do mundo não para de subir

O juro americano é o “preço” mais importante do mundo

Por Thiago Salomão

09 out 2023 11h18 - atualizado em 09 out 2023 11h37

“Au au au, cinco pesos um real”, gritávamos eu e outros torcedores do Palmeiras para a torcida do Boca Jrs no estádio La Bombonera. Era semifinal de Libertadores e o ano era 2018. O grito, autoexplicativo, era por causa da desvalorização da moeda argentina na época.

5 anos depois, voltei para o mesmo La Bombonera para mais uma semifinal de Libertadores. Esse grito não se repetiu porque ele ficaria longo demais, já que com 1 real hoje posso comprar 150 pesos.

De 5 para 150 pesos. Levei o equivalente a R$ 500 em pesos para dois dias de viagem e simplesmente não consegui gastar tudo. 

Infelizmente, o empobrecimento da Argentina não foi suficiente para o Palmeiras vencer o duelo (tal qual foi em 2018), mas não precisamos falar disso. A reflexão aqui é sobre a percepção do quanto vale o dinheiro, em um momento em que estamos passando por uma grande reprecificação no mundo.

Ora, quanto vale o dinheiro? Você pode mensurá-lo de duas formas: a primeira está na taxa de câmbio (quantos desse dinheiro eu compro com este outro dinheiro que tenho?) e a segunda, que é a que tem deixado o mercado estressadíssimo, está nos juros praticados por este país (quantos dinheiros eu pagarei por um empréstimo, ou receberei para emprestar para alguém?).

Esse nervosismo é notório desde agosto, mas se agravou nas últimas semanas e teve um novo episódio emblemático na última sexta-feira (5/out) com a divulgação do Relatório de Emprego dos EUA: a geração de empregos muito acima do esperado provocou mais uma forte alta no rendimento das treasuries americanas, que já superam os 5% ao ano para os vencimentos de 10 anos.

Já me adianto trazendo a conclusão aqui: ninguém faz a menor ideia do que está acontecendo. Das conversas que temos com grandes gestores locais, das interações com profissionais que atuam no exterior e até pelo comportamento dos preços, é possível concluir que o humor do mercado neste momento resume-se em:

Discussões sobre política monetária acontecem no mundo todo, mas nos EUA o debate ganha âmbito global, já que a taxa de juros americana serve como balizador dos juros no mundo todo. 

Por isso, não é exagero dizer que o juro americano é o “preço” mais importante do mundo – e este preço está ficando cada vez mais caro.

As grandes dúvidas que permeiam o mercado hoje são: i) quanto mais esse juro pode subir? ii) por quanto tempo esse juro ficará nestes patamares? iii) onde deixar o dinheiro enquanto espero essa tormenta passar?

As duas primeiras perguntas, ninguém tem o controle de saber. Mas a terceira pergunta é possível ter uma noção. Acompanhando os fundos multimercados em setembro, é possível dizer que muitos deles “reduziram risco” da carteira, enquanto alguns outros se deram bem ao buscar proteção no dólar – que disparou de R$ 4,90 para R$ 5,15 em duas semanas. 

Mas o ponto mais preocupante para o investidor brasileiro em meio a tudo isso é se essa escalada do juro americano vai desacelerar ou até interromper o ciclo de queda da Selic. Como bem definiu Rodolfo Amstalden na sua última newsletter, Selic cair de 13% pra 10% é muito mais um “desaperto” do que um afrouxamento monetário.

Não é recomendável tentar se antecipar agora: está muito cedo para cravar que o fim do ciclo de Selic chegou, e também muito cedo pra ir às compras em qualquer panicada do mercado. O melhor a fazer é acompanhar e esperar para onde vai o preço mais importante do mundo.

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Por Thiago Salomão

Fundador do Market Makers, analista de investimentos CNPI-P, MBA em Mercados Financeiros na Fipecafi e na UBS/B3. Antes de fundar o MMakers, foi editor-chefe do InfoMoney, analista de ações na Rico Investimentos, co-fundou o podcast Stock Pickers e foi sócio da XP de 2015 a 2021

thiago.salomao@mmakers.com.br